Resumo: Neve da Primavera (Yukio Mishima)

(Livro 1 de “O Mar da Fertilidade”)

A história se passa no Japão no início do século XX e começa descrevendo Kiyoaki Matsugae, filho de uma família rica mas sem tradição e seu amigo da Escola de Pares, o sério e compenetrado Shigekuni Honda, ambos com 18 anos. Kiyoaki conversa com Honda, recordando alguns momentos da sua infância nos anos após a Guerra Russo-Japonesa: uma procissão de tochas; uma fotografia dos serviços comemorativos no Templo de Tokuri, em 26 de junho de 1904; a beleza da propriedade dos Matsugae perto de Shibuya; uma visita do Imperador Meiji; e sua experiência como pajem da Princesa Kasuga durante as Festas de Ano Novo no Palácio Imperial. Kiyoaki possui uma marca de nascença no lado esquerdo do torso, que lembra três toupeiras enfileiradas. Entre alguns hábitos excêntricos de Kiyoaki, um dos principais é manter um diário dos sonhos, onde registra tudo o que lembra de ter sonhado.

No domingo, 27 de outubro de 1912, Kiyoaki e Honda estão conversando em uma ilha no lago ornamental da propriedade quando chegam a mãe de Kiyoaki, suas criadas e duas convidadas: Satoko Ayakura, a filha de 20 anos de um conde, e sua tia-avó, a Abadessa de Gesshu. A família Ayakura é uma das vinte e oito da aristocrática classe urin, e vivem em Azabu. Kiyoaki está ciente de que Satoko tem uma queda por ele e finge indiferença por ela. Pouco depois de todos se encontrarem, há um mau presságio: eles vêem um cão preto morto no topo de uma alta cachoeira. A Abadessa oferece-se para rezar por isso. Satoko insiste em colher flores para o cão com Kiyoaki. Enquanto Satoko está sozinha com Kiyoaki, ela deixa escapar: ”Kiyo, o que você faria se de repente eu não estivesse mais aqui?”. Ele fica desconcertado com a pergunta inexplicável, e ressente-se do fato de que ela o tenha assustado com isso.

De volta à casa, a Abadessa faz um sermão sobre a doutrina de Yuishiki, ou a teoria da consciência pura do budismo Hosso. Ela conta a parábola de Yuan Hsiao, o homem que, na escuridão do breu, bebeu de um crânio por acidente. A Abadessa argumenta que o significado de um objeto é concedido pelo observador.

Dez dias depois, em 6 de novembro, Kiyoaki janta com seus pais. Eles discutem seu otachimachi (ritual de adivinhação), que havia sido realizado em 17 de agosto de 1909, e mencionam que Satoko acaba de rejeitar uma oferta de casamento. Isso explica a pergunta misteriosa dela. Kiyoaki e o seu pai, o Marquês Matsugae, jogam bilhar, depois saem para um passeio. O Marquês tenta persuadi-lo a ir com ele a um bordel e ele se afasta em desgosto. Mais tarde, ele não consegue dormir, resolvendo se vingar de Satoko por deixá-lo perplexo deliberadamente.

Em dezembro, dois príncipes chegam do Sião para estudar na Escola de Pares e recebem quartos dos Matsugae. Eles são o príncipe Pattanadid (um irmão mais novo do novo rei, Rama VI) e seu primo, o príncipe Kridsada (um neto de Rama IV), apelidados respectivamente de ”Chao P” e ”Kri”. Chao P está profundamente apaixonado pela irmã de Kri, a princesa Chantrapa (”Ying Chan”), e usa um anel de esmeralda que ela lhe deu como presente. Eles perguntam a Kiyoaki se ele tem uma namorada. Ele menciona Satoko, embora tenha acabado de lhe enviar uma ”carta insultante” na véspera, onde afirma falsamente que visitou um bordel pela primeira vez e perdeu todo o respeito pelas mulheres, incluindo ela. Para salvar a situação, ele telefona para Satoko e faz com que ela prometa queimar sem ler qualquer carta que receber dele. Mais tarde, os dois príncipes se encontram com Satoko no Teatro Imperial em Tóquio. Ela é cortês, e Kiyoaki conclui que Satoko destruiu a carta.

Enquanto isso, Kiyoaki continua se aborrecendo com seu exigente tutor, Shigeyuki Iinuma, um reacionário puritano de 23 anos de Kagoshima. Ele frequentemente faz suas orações no santuário da família Matsugae, enquanto lamenta sua ineficácia nos seis anos do seu papel de tutor, a lentidão do aprendizado do seu pupilo, e a visível decadência dos costumes e da sociedade no Japão. Pouco depois do ano novo, Kiyoaki revela-lhe que sabe do seu caso com uma empregada doméstica, Miné, e o chantageia para esconder seus próprios encontros com Satoko. A empregada de Satoko, a velha Tadeshina, promete ajudar.

Certo dia em fevereiro, os pais de Satoko viajam para Kyoto para ver um parente doente. Aproveitando a oportunidade, Satoko convence Kiyoaki a faltar à escola e se juntar a ela em um passeio de riquixá pela neve. Os dois se beijam pela primeira vez. Quando eles passam pelo terreno do desfile do 3º Regimento Azabu, ele tem uma visão de milhares de soldados fantasmagóricos em cima dele, reproduzindo a cena na fotografia descrita no início da história. A quilômetros de distância, Honda tem um tremor premonitório semelhante, vendo a mesa vazia do amigo na sala de aula. Na manhã seguinte, eles se encontram muito cedo no recinto da escola e têm uma longa conversa. Honda declara acreditar na realidade do destino, que não pode ser alterado e é sempre inevitável.

Kiyoaki recompensa Iinuma por sua cooperação, dando-lhe a chave da biblioteca para que o tutor possa fazer sexo com Miné lá secretamente. Iinuma o odeia por isso, mas aceita o acordo. Satoko escreve sua primeira carta de amor. Kiyoaki, dividido entre seu orgulho mórbido e sua paixão genuína, finalmente responde a ela sinceramente.

Em 6 de abril de 1913, o Marquês Matsugae organiza uma festa para o seu amigo Príncipe Haruhisa Toin, convidando apenas Satoko e seus pais, os dois príncipes, e o Barão Shinkawa e sua esposa. Os hóspedes são retratados como ridiculamente meio ocidentalizados. Durante um momento privado, Satoko e Kiyoaki se abraçam, mas de repente Satoko se vira e o rejeita, chamando-o de infantil. Enfurecido, Kiyoaki conta a Iinuma o que aconteceu. O tutor responde com uma história que o faz perceber que Satoko realmente leu a carta que deveria ter queimado. Kiyoaki conclui que ela o tem conduzido o tempo todo para humilhá-lo. Rompendo todos os contatos, ele eventualmente queima uma carta de Satoko na frente de Iinuma.

No final de abril, o Marquês diz a Kiyoaki que Satoko está sendo considerada para esposa do terceiro filho do Príncipe Toin. Kiyoaki responde com indiferença. O Marquês então anuncia para a surpresa do filho que Iinuma deve ser dispensado: o caso com Miné foi descoberto. Na mesma noite, Kiyoaki tem outro sonho premonitório.

No início de maio, Satoko visita a vila Toinnomiya à beira-mar e encontra o Príncipe Harunori. As propostas formais seguem rapidamente pelo correio. Kiyoaki está cheio de satisfação ao ver Satoko, Tadeshina e Iinuma se afastarem de sua vida. Ele se orgulha de sua falta de emoção quando Iinuma se afasta em lágrimas, mais tarde comparando sua própria conduta ultra-correta com o elegante progresso de um besouro no peitoril da sua janela. A ausência de Iinuma torna o festival omiyasama daquele ano, comemorando o avô de Kiyoaki, mais rotineiro do que nunca.

Enquanto isso, os príncipes tailandeses mudaram-se da casa dos Matsugae para dormitórios privados no terreno da Escola de Pares. Chao P pede a Kiyoaki que lhe devolva seu anel de esmeralda, que estava sob a guarda do Marquês; ele não recebe uma carta de Ying Chan há meses e está ansioso por ela. Kiyoaki rasga a última carta que recebe de Satoko. Um dia, sua mãe parte para a vila de Ayakura para parabenizar a família, informando-o casualmente de que o casamento de Satoko com o Príncipe Harunori agora estava decidido. De repente, Kiyoaki se sente emocionalmente despedaçado e passa as próximas horas atordoado.

Ele leva um riquixá para a vila de Ayakura e, certificando-se de que sua mãe partiu, vai procurar Tadeshina. Surpresa, ela o leva a uma pensão obscura em Kasumicho, onde ele ameaça mostrar a última carta de Satoko (que ele rasgou) para o Príncipe Toin se ela não marcar um encontro. Três dias depois, ele volta para a pensão e encontra Satoko. Os dois fazem amor; depois, para desespero de Tadeshina, ele exige outro encontro.

Kiyoaki vai diretamente até Honda e dá um relato completo de tudo o que aconteceu. Seu amigo fica espantado, mas o apoia; não muito tempo depois, uma visita ao tribunal distrital solidifica sua decisão de não se envolver no drama da vida de outras pessoas.

Neste momento, Chao P perde seu anel de esmeralda na Escola de Pares. Kri insiste que foi roubado, mas o prefeito força os dois tailandeses a procurá-lo num gramado de 200 metros quadrados em plena chuva. Este incidente leva-os a sair da escola. O Marquês Matsugae, temendo que eles deixem o Japão com memórias desagradáveis, pede-lhes que não voltem imediatamente ao Sião, mas que se juntem à sua família na sua casa de férias em Kamakura durante o verão. É aí que o tema da reencarnação é abordado pela primeira vez, nas conversas entre Kri, Chao P, Honda e Kiyoaki. A ligação entre Kiyoaki e Satoko é mantida por Honda, que providencia um Ford Modelo T para transportar Satoko entre Tóquio e Kamakura em segredo. Kiyoaki tem um terceiro grande sonho profético.

Os príncipes tailandeses recebem uma carta informando-os da morte de Ying Chan. Devastados, eles voltam ao Sião uma semana depois.

Tadeshina descobre com o mordomo dos Matsugae que Kiyoaki não possui a última carta de Satoko, mas continua a acobertá-los. Em outubro, ela percebe que Satoko está grávida, um fato que ambas escondem de Kiyoaki. No restaurante da loja de departamentos Mitsukoshi, elas o informam que não pode haver mais contato. Kiyoaki e Honda, enquanto discutem isso, se deparam com outro mau presságio: uma toupeira morta no caminho à frente deles. Kiyoaki a pega e joga num lago.

Depois de um longo período sem notícias, Kiyoaki é convocado para a sala de bilhar por seu pai. Tadeshina tentou suicídio, deixando um bilhete confidencial para o Marquês revelando o caso para ele. No início, o Marquês fala calmamente, mas quando Kiyoaki não se desculpa, ele espanca o filho com o taco de bilhar. Kiyoaki é resgatado pela sua avó; a família imediatamente começa a se concentrar em limitar os danos.

O Conde Ayakura está fortemente tentado a punir Tadeshina, mas ela demais sobre seu ressentimento secreto contra os Matsugae. O Conde não pode permitir que Tadeshina revele a instrução que deu a ela em 1905 de que Satoko deveria perder sua virgindade antes que qualquer noivo escolhido pelo Marquês a tocasse.

O Marquês Matsugae encontra o Conde Ayakura e eles organizam um aborto para Satoko em Osaka. No caminho de volta para Tóquio, Satoko e sua mãe param no Templo Gesshu para ver a Abadessa. Satoko foge e se esconde de sua mãe, que mais tarde descobre que ela cortou o cabelo e resolveu se tornar uma freira. A Abadessa, que suspeita que uma conspiração contra o Imperador está em andamento, espera frustrá-la protegendo Satoko. Perplexa quanto ao que fazer, a fraca Condessa retorna a Tóquio para pedir ajuda. Mas nem o Conde nem o Marquês conseguem remover Satoko do convento.

O noivado é cancelado com um atestado médico falso, datado de um mês antes, declarando Satoko doente mental. Em fevereiro de 1914, Honda dá dinheiro a Kiyoaki para viajar para o convento em um esforço para encontrar Satoko. Ele aparece na porta da frente repetidamente, mas sua entrada é sempre recusada. A saúde de Kiyoaki piora gradativamente, pois ele se força a caminhar pela neve entre a pousada em Obitoke e o convento como uma forma de penitência. Eventualmente Honda vem procurá-lo depois de receber um telegrama, e fica chocado ao ver como ele está doente. Concluindo que uma reunião com Satoko é vital, Honda vai para o convento sozinho em 27 de fevereiro, mas a Abadessa se recusa firmemente a permitir qualquer encontro. Na mesma noite, Honda e Kiyoaki partem para Tóquio.

Durante a viagem de trem, o moribundo Kiyoaki diz a Honda: ”Ainda agora tive um sonho. Espero ver você novamente. Eu sei. Debaixo das cataratas.”. Ele escreve um bilhete para a mãe, pedindo-lhe para dar a Honda seu diário de sonhos. Dois dias após seu retorno, em 2 de março de 1914, Kiyoaki morre, aos 20 anos de idade.

Veja Também:

  • Artigo link externo sobre Yukio Mishima na Wikipedia.
  • Resumo de “Cavalos em Fuga”.
  • Resumo de “O Templo da Aurora”.
  • Resumo de “A Queda do Anjo”.